12/12/2010

A Menina Que Procurava - Lucinda Prado

A menina que procurava
E lá estava ela feliz e serelepe correndo para o seu lugar preferido, o coche do curral. Certificando que estava sozinha, entra e se deita dentro do tabuleiro com rebordas, este lugar normalmente é usado para colocar sal para o gado, mas ela descobriu que era perfeito para acomodar seu corpinho magro de menina de cinco anos. Ali naquele momento ela se perdia no seu passatempo preferido, ficar olhando para as nuvens tentando associar suas formações com alguns objetos ou animais. Mas ela também se descobria melancólica e saudadosa, na maioria das vezes que procurava seu esconderijo. Ficava horas mirando o céu como se procurasse alguém por detrás daquelas nuvens, que o vento teimava em conduzir com se fossem tufos de algodão acabado de sair das cardas e, nessas horas, uma saudade quase incontrolável tomava conta de seus sentimentos ainda pueris. Choramingando, ela procurava pelo colo de sua mãezinha em busca de consolo para sua dor, da qual, ela sequer suspeitava de onde vinha. Eram uma preocupação familiar, essas crises. Sua avó, sempre achava que a Dona Chiquita poderia dar um jeitinho fazendo algumas orações e benzendo a menininha com um ramo de alecrim. Sua mãe dizia que não era para ela voltar nunca mais a aquele lugar, mas ela sempre retornava e sempre a mesma saudade que lhe invadia a alma sonhadora.
Tempos depois, a família se muda para a cidade para que os filhos fossem para uma escola regular. O Pai, um autodidata, fazia questão de deixar como herança para as filhas, o estudo. Dizia que assim elas teriam uma profissão e jamais necessitariam de um marido para ser feliz.
Lá se foi nossa menininha para a cidade, e longe do cocho como seria? Mas era nato nela essa precisão de ouvir o silêncio interior. Então ela improvisou um lugar, fez as adaptações necessárias juntando duas cadeiras, que ela colocava estrategicamente bem no meio do quintal, onde nada pudesse impedir sua visão quase celestial. Já nesse período ela começava a ter a percepção de que buscava alguém, mas quem? Ela não sabia a resposta para essa pergunta que guardava trancada dentro de seu coraçãozinho. O tempo foi passando, ela se tornou adolescente, e depois, adulta. Mesmo antes dessa fase, ela se casou teve filhos e logo em seguida se divorciou. Viveu alegrias e tristezas naturais da vida, mas conquistou muitas coisas boas. Viveu muitos amores, uns mais calorosos e outros nem tanto, mas jamais se esqueceu daquela busca que a perseguia desde criança. Nessa fase, entendia que teria a resposta para esta procura.
Um dia ela teve a resposta tão esperada, bastando que ele a olhasse e a deixasse espreitar bem no fundo de seus olhos, para que ela pudesse ter plena confiança de ter encontrado o que buscava por detrás das nuvens.
Lucinda Prado