16/07/2014

O Homem por trás de muros (Lucinda Prado)

Esquinas repletas de segredos
que se escondem detrás de paredes
de cores duvidosas  e desbotadas pelo tempo
mas...  o mundo fora dos muros
é  sempre um barulho eterno
de vários gargalhar sonoros
que rapidamente se transformam em
barulhentas lágrimas de risos e dores,
inundando caras limpas e imundas
que gritam aos quatro cantos dos quintais
segredos que se escondem por detrás de muros

e o homem sábio sentado no banco do jardim florido
... apenas ouve e ri.

11/06/2014

De Lá pra Cá - Lucinda Prado


Transborda de dentro de mim
Palavras, frases, versos inteiros.
Que borbulham eloquentemente
E os vomito no papel em branco.

Na página virgem, rabisco um risco
Arrisco um grito, um gemido de peito,
São letras transformando palavras
São palavras recompondo versos

Nua com meus poemas
Vou rabiscando amor, flor e dor
Enxugando lagrimas, abrindo risos
Acordes que ainda não são canções.

Vai surgindo cores, odores, sangue?
São tantas estrelas, luas e apenas um sol
É um sorriso, um acorde, uma melodia.









04/06/2014

Pelos Grandes Sertões das Gerais – Lucinda Prado


Não era novo nem velho, nem bonito nem feio
Só sei que apareceu numa curva da estrada...
Veio vindo com sua montaria garbosa, altaneira.
A estrada? Essa que era feia, riscada de xadrez
de chuva derramada aos potes.

Cavaleiro e cavalo, em completa harmonia.
O de cima, de vestimenta, um capote e uma capa
Que se espalhava rodadamente sobre o dorso do debaixo
Que vinha no tropeço da estrada de terra sovada
Trazendo na retaguarda um cachorro julim.

O que vinha em cima da montaria cabalina
espalhava nos lábios um sorriso de ouro
Levantou a mão a nos saudar ...
Dedos de cigarro, unhas de terra escavada

Assim como o vento, passou retinindo esporas
Retinindo esporar evaporou no vento
Zé Bebelo?Riobaldo?Ou seria Zeca Ramiro?
Voltando dos grandes sertões das gerais.


Ai meu compadre Quelemém!
me explica lá este acontecimento,
Será que foi o Medo que agarra a gente pelo enraizado
Ou foi porque o mundo esta todo desarrumado?

                                ***


Zé Bebelo, Riobaldo, Zeca Ramiro Compadre Quelemém - Personagens de Guimarães Rosa

Eretismo – Lucinda Prado


A alma se fez candente
Em inquietações desconcertantes
Impelindo pensamentos devassos
Contra um corpo arquejante!

Rapidamente no cérebro estanca
No afã de ideias insanas
Um feixe de luz alavanca
Loucos instintos, chispantes!

Corpo e alma na forja ardente
Rija a boca... Contorce o dorso
Na suprema convulsão delirante
Esmaga a pele, range os dentes!

Do corpo emanam faíscas instigantes
Encontram raios, espasmos, gritos
Rotação lenta entre corpo e alma

Corpo e alma lentamente descansam!

07/02/2014

O Misterioso Violonista - Lucinda Prado

Ora fadas, ora anjos
Ruflando asas multicores
Nas copas de arvoredos,
Hálitos leves e acordes
De ondas musicais,
Sonorizam em viravoltas
De violas afinadas,
Ora suaves, ora intensas.

Quase choro, quando ouço
Tão ternas harmonias
Pois nem sei se ela existe
Ou seria apenas o reflexo
Do entardecer do dia!

Aos poucos distancia
Cala as notas por inteiro
E das brumas de açucenas
Vem surgindo faceiro
O mais belo seresteiro.

Cabelos que o vento deu um sopro
Viola dependurada ao léu
Será uma terna miragem
Saída dos jardins de Monet?
***
(ilustrando - A primavera, Monet, 1886)
Para o grande violonista Romano Nunes

23/01/2014



MARIA DO ASFALTO

Maria doida são tantos brasileiros
sem eira nem beira que brotam no asfalto
que encobre os descaminhos desse vasto terreiro

É a gente sem história, a gente sem nome
que só tem como bem o fardo de mal existir
com medo, com cansaço, com dor e com fome

Maria doida existe em todas os lugares
em todas as ruas, cantos e calçados das cidades 
que morre de noite, sem vela, sem cruz,
sob a sombra da marquise sem deixar saudade.
(eliane soares)

(poema inspirado no poema de Maria doida de Lucinda Prado "Maria,a  Doida")