29/03/2011

Delírios - Lucinda Prado


Hoje vejo rostos vincados pelo tempo
Vejo velhos de sonhos não realizados
Nossos brinquedos inventados jogados no esquecimento do porão
Os amigos se foram para o estrangeiro ou se encontram esquecidos
Em algum canto de suas próprias mentes.
Na retina do tempo afago minhas lembranças
Das casas brancas desenhadas a giz
Portas azuis de anil e calçadas de pedras

Era uma época de muitas colheitas
Colhíamos saber brincando nas ruas
Nos assustávamos com raios e trovões
Olhávamos da janela azul a goteira cavando o solo
Descobríamos uma flor cultivada pelo orvalho
Tomávamos agua da bica com medo de sacis
Andávamos na enxurrada correndo de lobisomens
Riamos as gargalhadas sem medo de envelhecer.

Não tínhamos essas mãos trêmulas
Nem esse olhar sem brilho, sem esperança
Tínhamos um mundo a nossa frente
Éramos destemidos e arrogantes com o amanhã
Pensávamos que o futuro não estava ao nosso alcance
Mas ele nos alcançou no meio do caminho
E com ele seguimos galopantes.
(Da série - Divagando )

28/03/2011

Inquietude – Lucinda Prado


Somos seres às vezes confusos
Às vezes cismadores e adoráveis
A procura de algo inexplicável
Remoemos nossas angustias pessoais
Culpamos nossos desafetos
Amamos o incerto
Queremos dissecação
E nos perdemos oceano profundo
De nosso ser abismal
A procura do Perfect