30/04/2011

Deixar Ir - Lucinda Prado e Adalton Miguel


Habitante de meus sonhos
Quero te libertar
És a sombra de minhas noites
És da noite, o luar
Companheiro de estrelas
Minha luz do amanhecer
Se te fores de meus sonhos
Levaras meus versos, minhas falas
Meu viver

És como Uirapuru, sutil e cantador
Quero dormir sonhos profundos
Tecer meus dias em outra manhã
Você meu habitante de luz
Quero te libertar

Calma, não se apresse meu amor
Estou aprendendo a deixar ir
Pois não sei como ficar
Venha, segure minha mão
Me ensine a te libertar.

Habitante dos meus sonhos
Minha luz, meu céu, meu mar
Vou deixar você partir
Para assim não me deixar

Habitante dos meus sonhos
Só queria te amar
Pra dos seus sonhos não sair
Nunca mais vou acordar

Calma, não se apresse meu amor…

Habitante dos meus sonhos
Sonhe sonhos cor do mar

18/04/2011

A menina que procurava - Lucinda Prado

E lá estava ela feliz e serelepe correndo para o seu lugar preferido, o coche do curral. Certificando que estava sozinha, entra e se deita dentro do tabuleiro com rebordas, este lugar normalmente é usado para colocar sal para o gado, mas ela descobriu que era perfeito para acomodar seu corpinho magro de menina de cinco anos. Ali naquele momento ela se perdia no seu passatempo preferido, ficar olhando para as nuvens tentando associar suas formações com alguns objetos ou animais. Mas ela também se descobria melancólica e saudadosa, na maioria das vezes que procurava seu esconderijo. Ficava horas mirando o céu como se procurasse alguém por detrás daquelas nuvens, que o vento teimava em conduzir com se fossem tufos de algodão acabado de sair das cardas e, nessas horas, uma saudade quase incontrolável tomava conta de seus sentimentos ainda pueris. Choramingando, ela procurava pelo colo de sua mãezinha em busca de consolo para sua dor, da qual, ela sequer suspeitava de onde vinha. Eram uma preocupação familiar, essas crises. Sua avó, sempre achava que a Dona Chiquita poderia dar um jeitinho fazendo algumas orações e benzendo a menininha com um ramo de alecrim. Sua mãe dizia que não era para ela voltar nunca mais a aquele lugar, mas ela sempre retornava e sempre a mesma saudade que lhe invadia a alma sonhadora.
Tempos depois, a família se muda para a cidade para que os filhos fossem para uma escola regular. O Pai, um autodidata, fazia questão de deixar como herança para as filhas, o estudo. Dizia que assim elas teriam uma profissão e jamais necessitariam de um marido para ser feliz.
Lá se foi nossa menininha para a cidade, e longe do cocho como seria? Mas era nato nela essa precisão de ouvir o silêncio interior. Então ela improvisou um lugar, fez as adaptações necessárias juntando duas cadeiras, que ela colocava estrategicamente bem no meio do quintal, onde nada pudesse impedir sua visão quase celestial. Já nesse período ela começava a ter a percepção de que buscava alguém, mas quem? Ela não sabia a resposta para essa pergunta que guardava trancada dentro de seu coraçãozinho. O tempo foi passando, ela se tornou adolescente, e depois, adulta. Mesmo antes dessa fase, ela se casou teve filhos e logo em seguida se divorciou. Viveu alegrias e tristezas naturais da vida, mas conquistou muitas coisas boas. Viveu muitos amores, uns mais calorosos e outros nem tanto, mas jamais se esqueceu daquela busca que a perseguia desde criança. Nessa fase, entendia que teria a resposta para esta procura.
Um dia ela teve a resposta tão esperada, bastando que ele a olhasse e a deixasse espreitar bem no fundo de seus olhos, para que ela pudesse ter plena confiança de ter encontrado o que buscava por detrás das nuvens.
Lucinda Prado

10/04/2011

Incertezas – Lucinda Prado


O Amor esta se instalando,
Dentro do peito estrondo...
Roncos, gritos, uivos...
Insônia

Fome canina
Chamas ardentes
Medo...?
Amor chamando?

Luta desesperada
Entre incertezas...
Amo. Não amo?
Não quero... Prorrogo.

Chegou se instalou...
É agora?

(da série Divagando)
Foto: Lucinda prado - Monte Castelo -GO

06/04/2011

Porta-retratos – Lucinda Prado


Amaria teus abraços
No lugar do porta-retratos
Que nunca tem teu perfume.
Passeiam em mim teus toques
Das manhãs que passeávamos de mãos dadas
Ressoa em mim, suas rimas bem feitas
Roça em mim, teu corpo quente
Teu cantar sem jeito
Seus versos espremidos
Em meu ouvido
Comprimidos...
Meu gemido sem dor
Aprontando um verso de nós dois
No convexo de corpos
Num abraço noturno
De um misturar de sonhos
Dos corpos colados
Suados...
No beijo selado
Do porta-retratos.
(Da série divagando)