15/01/2011

Meu passarinho, meu passarão!


Hoje o dia amanheceu de uma calmaria desconcertante. Abri a porta que dá para o quintal e me deparei com uma cena lindíssima! Fazendo a maior algazarra sobre a grama, um passarinho do papo amarelo, lindo e faqueiro tomava seu banho matinal na água que escorria do regador. Era um bem-te-vi festeiro.
Fiquei olhando aquela cena e me perdi em pensamentos.
Lembrei-me da história que minha mãe nos contava sobre como o João de Barro foi criado por Jesus. Ela nos contava que uma criança havia feito um passarinho de barro, e olhando sua obra acabada e tentando dar vida a ela, começou a rodopiar em volta do pássaro e batendo palmas dizia:
Voa passarinho! Voa passarinho! – E que Jesus vendo de longe a pureza do menino, o ajudou na sua façanha, dando vida ao passarinho, que saiu voando. Dai o menino resolveu que seu passarinho não poderia ficar sozinho no mundo e da mesma forma ele criou a D. Joaninha de Barro e que o casal de pássaros saiu feliz e se multiplicando pelo mundo de Deus.
Outra história que ela nos contava, talvez porque fomos criadas em uma fazenda, ela aproveitava o ambiente como ilustração para nos educar.
Tínhamos pavor dos bem-te-vis porque ela dizia que eles eram os pássaros do “capeta” e era considerado um dedo duro. Ela dizia que o bem-te-vi foi quem contou para os soldados onde estava Maria e José quando eles fugiam com o menino Jesus e que somente não tinham sido descobertos pelos soldados porque o João-de-barro os havia escondido em sua casinha de barro.
Esta era a maneira um tanto pueril que nossa mãe encontrou de nos falar de traição.
Mas agora eu ali olhando aquele bem-te-vi, comecei a rir do nosso pavor infantil.
Moro numa rua chamada Rouxinol, aliás, todas as ruas do bairro trás o nome de um pássaro. E acredito que isto tenha uma razão de ser. Aqui todos os anos recebemos a visita de milhares de andorinhas que migram do Canadá para o Brasil fugindo do inverno rigoroso da América do Norte. Elas vêm em milhares, cruzam o céu batendo freneticamente suas asas delicadas, num barulho quase assustador... Aninham-se nas copas das árvores da rua. O barulho que fazem é enorme e a sujeira também. Quando amanhece o dia, embaixo das árvores, fica uma lama de fezes e isto leva alguns vizinhos a tomarem medidas nada corretas, chegam ao cúmulo de cortar a copa das árvores deixando apenas os troncos. Outros soltam fogos, outros ainda batem tampas de panelas, na esperança de espantá-las dali... Tudo em vão.
Esses adultos zangados se esquecem de suas infâncias, não se lembram das falas dos mais velhos que diziam que as andorinhas foram criadas por Deus para alegrar Maria e também para brincar com menino Jesus.
Lucinda Prado