28/04/2013

Pamonhada - Lucinda Prado






















Histórias, causos, piadas,
Cada espiga de milho colhido
Tem seu ritual e suas falas
Uma rodela, outro desempalha.
Cuidado! Separe somente as melhores palhas
Outro cata os cabelos entranhados
Que durantes dias foram se formando ali
Entre tenros dentes de milhos amarelados
Suculentos, adocicados e estalantes
Qual a função dos cabelos de milhos?
Ninguém sabe não, é preciso pesquisar
E dos mais velhos vêm à explicação:
Foram colocados ali para dar o grito
De “tá bão, vamos pra pamonhada”.

No respingar do sumo escorrendo pelo ralo
Ritmos de cantorias de violas afinadas
Há de coar a massa pra tirar o bagaço
Que na brincadeira virá uma pamonha premiada
Para deleite dos convivas em torno do fato
Na temperança vem de tudo, sal, doce e linguiça
no fogão a lenha, crepita labaredas douradas,
Água fervente fumegando nas tachas de cobre
Convidando para  pamonhas cozinhar.
Das palhas de copos perfeitos!
Precisa de uma para atar, cuidado!
Queijo em nenhuma pode faltar!

Com o poente tecendo seus versos
Pamonhas embaladas, ajeitadas em tachas ferventes.
Palhas e sabugo por cima tem que se colocar
Tempo, tempo, tempo para cozinhar.
No ar aromas, calor, fumaça... Prontas!
Corre com as peneiras para escorrer
Mãos treinadas as arrancam da tacha
Vapores, Dolores, sabores...

A viola se cala, homens, mulheres, crianças
Famintas, em alvoroços, rodeiam
Mulheres de olhos aflitos procuram
Elogios e huns e ais
Um certo cuidado toma conta de todos
Quem será o premiado? Atenção!
Pamonha de farelo ninguém quer não
Alguém grita - quem será o premiado?
Rostos suados, olhos aflitos,
Ninguém quer pagar mico,
De repente uma explosão de risos
Denuncia o sortudo, coitado, sem graça!
Gargalhadas explodem; pura festança.

Começam as apostas de quem come mais.
Suores escorrem de rostos felizes
Moleza aproxima de corpos pesados
E agora?
Quem lava os pratos?
Disputa na sorte!


 Obs: Coisas de Goiás,minha terra natal. Por lá ainda é uma festa o ajuntamento de pessoas para a feitura de pamonhas. Aliás, o ritual virou patrimônio cultural de Goiás.
Nessas ocasiões acontece grandes rodadas de viola.