22/12/2011

Ronda Poética - Lucinda Prado


O amor está gritando perto de mim
Ronda- me os sentidos, assinala que vem,
Amedronta-me a alma, arrepia o corpo,
Vem chegando mansamente, não fujo.

Abro meu peito numa coragem sem fim
Deixo que entre, que se lambuze de mim,
Prevejo um brilho purpurinado em meus olhos
Farejo em meu corpo cheiro de amor.


Como um louco, vou dançar com você.
Vou cantar loucamente suas canções
Vou chorar alegremente em meus poemas
Vou sonhar acordado, com momentos sem fim.

Depois você se vai! Terá que ir!
Detesto amores eternos, te expulso de mim.

Deixará versos espalhados nas gavetas
Deixará em meu espelho, sua sombra etérea,
Que rondará meu leito nas noites insones.
Deixará seu riso ecoando em meus ouvidos.

Deixará a marca de teu corpo em meus lençóis azuis
Teu perfume se espalhará por minha alma
Arrancando rimas, espalhando liras.
Sou louco poeta - eis minha arte.

O amor está gritando perto de mim
Ronda- me a alma, assinala que vem.

Maria e José - Lucinda Prado e Monsyerr Batista

Era Maria

Sonhos e fantasias de menina

Trazia a coralina... 

Maria vinha de cora
Vinha pura, vinha limpa
Maria corria, Maria dançava.
Maria cantava e sorria
Maria era Livre



Era José

Que chegou 

Lá das bandas dos Campos Elíseos

Veio no seu cavalo alado
Trazendo as mãos cheias
De estórias de lutas
Castelos, bruxas, donzelas
Dragões e espadas heróicas
José amava a justiça 
E a liberdade



Agora

Era Maria

Era José

Era José e Maria
O novelo e a agulha
Que em sua dança
Rodopiava, tecendo a trama 
Que o coração
Conhece e fia



José não era mais cavaleiro

Era um anjo da conquista

Era no céu risonho da bela

Heróico mito de Heitor
A luz do sol e a fantasia
Cantado em versos, prosas
Contos e poesias
Era o ar que ela respirava
Era Maria apaixonada
Era José oitava maravilha


Agora era tudo diferente

O mundo inteiro para dois amantes

Frenéticos e apaixonados

Todo encanto de amor e prazer

Selaram pactos, trocaram juras
Românticos castelos visitaram,
José acomodou-se das aventuras
Pra dedicar-se inteiro ao amor
Não mais lutava, com dragões e bruxas
Cantava loas, declamava versos
Toda lua cheia era para Maria


Mas chegou um dia José se calou

Suspirou um tanto entediado 

Não fazia mais versos, nem cantava

Seu olhar perdeu-se no vazio

E Maria agora já não empolgava
Viu-se reclamada companhia


Maria observava, Maria pedia
Se chorava ninguém sabia 
Maria sentia, Maria sofria
Não via mais nele a mesma alegria
Tudo ao redor era cinza rotina
E Maria pediu
E Maria rezou
E Maria entendeu o que o acometia


Lá se foi José no seu cavalo alado

Levou sua Maria só no coração

Vestiu a armadura de lutas de outrora

Pra outras aventuras, pra outras dimensões
Lá ficou Maria junto do castelo
A se olharem de longe nas dobras da lua
Com longos bordados
Feitos de renuncia
Feitos de ternura, amor e devoção



Depois da partida veio a tempestade

Depois a bonança em seu coração

Maria acordou certo dia

Surpresa, voltara a sonhar 
José também, e voltou a lutar



Maria sentia-se novamente amada

José percebia que ela 

Era sua força para vencer 

E nas noites de lua, vem vindo José
Aninhar-se no leito de sua Maria
Agora o castelo só sabe dizer
Maria José
José Maria.



**Versão da obra original de Lucinda Prado feita por Monsyerrá Batista 

Na foto: Lucinda e Monsyerrá escrevendo Maria & José

06/12/2011

Duelo Comigo Mesmo - Lucinda Prado

Se você quiser eu fico
Mas você quer e não quer
Você fica no molho, tolo
Escolhe ficar em cima do muro
Então fecho os olhos, boca ,mente
Me pego nesse duelo
Você e eu ...eu e você.

Deixe queimar meus riscos
Amar-te e morrer nos teus braços
Quero viajar nos teus lábios
Dilacerar meu amor é meu risco
Mas você impede-me o voo
Afasta-me com afagos,me puxa de volta
Apontando-me outros amores,outros caminhos
quase viajo na sua sugestão,mas não.

Se você quiser eu fico
Mas você quer e não quer
Fica num lero-lero
Num quero, não quero...

Foto : Lucinda Prado