29/01/2011

Paul Cezanne




Paul Cézanne
(1839-1906), Aix-en-Provence – França.

Cézanne pertencia a uma família tradicional e seu pai, banqueiro e autoritário, não aceitava a idéia do filho ser artista. Mas Cézanne tinha dificuldades para enfrentá-lo. Com o apoio de sua mãe, o pai acabou cedendo ao desejo do filho, que abandonou a faculdade de Direito e viajou a Paris, em 1861, para aperfeiçoar os estudos em pintura. Apesar da presença de seu grande amigo de infância, o (futuro) escritor Émile Zola, Cézanne não conseguiu adaptar-se ao ambiente artístico parisiense e, após seis meses, retornou a Aix e começou a trabalhar no banco do pai. Descontente com sua vida, largou o trabalho e voltou a Paris em 1862, quando passou a receber dinheiro do pai para se manter. Porém, não havia espaço para pintores inovadores em meio à arte acadêmica de Paris. Cézanne foi diversas vezes recusado no Salão Oficial, além de ser reprovado nos exames de ingresso na Escola de Belas Artes de Paris. Isto só veio a agravar sua instabilidade emocional, que o fazia voltar freqüentemente a Aix. Mesmo conhecendo vários artistas, seu modo de ser, irritadiço, tímido e aborrecido, impediu-o de travar relações duráveis com os grupos parisienses, fazendo com que o seu isolamento se tornasse cada vez maior. Em 1886, Cézanne rompeu relações com Zola que este publicou o romance A Obra - no qual o personagem principal é um artista fracassado com pensamentos e personalidade que se assemelhavam aos de Cézanne. Esse episódio trouxe muita dor a Cézanne e somou-se à morte do seu pai no mesmo ano. Passou a viver ainda mais isolado, obstinado em sua busca artística, contrariado com certas opiniões e depressivo. A personalidade anti-social do artista fica visível nas obras em que trata personagens humanos, como em Mulher com cafeteira, na qual a frieza e a rigidez da mulher a aproxima da própria figura da cafeteira. Segundo Márcio Doctors, é este isolamento do artista, sua busca por uma nova verdade para a arte a partir do mergulho em sua solidão intelectual, que irá gerar o mito anti-heróico de Cézanne, um dos mártires do início da Arte Moderna.

Mesmo nas obras do período em que esteve junto aos impressionistas, em 1872, é o aspecto solitário das pesquisas de Cézanne que salta aos olhos, a sua singularidade e a dificuldade de aquietar-se com os ideais artísticos de um grupo. O Impressionismo tomava a natureza pelo seu aspecto passageiro e traduzia-a em termos óticos, efeitos de luz e cor. Essa concepção efêmera da natureza não condizia com o pensamento de Cézanne. Por volta de 1878 ele afastou-se dos impressionistas para buscar a permanência da natureza através de sua estrutura construtiva. Começou a desenvolver seu próprio estilo, atento ao aspecto bidimensional da pintura. Cézanne não cria a ilusão do espaço, mas o constrói com objetos, na solidez de suas formas e volumes simplificados em sua essência geométrica. Afirmava que "tudo na natureza se modela como a esfera, o cone e o cilindro", tornando volume e espaço um só corpo estrutural. A cor modela a forma, como podemos observar em Natureza morta com maçãs e laranjas, e a pincelada constrói a cor, como podemos ver em Pirâmide de crânios.

Se crises depressivas acompanharam Cézanne por toda sua vida, foi sem dúvida a persistência, forte marca de sua personalidade, uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento de sua genialidade artística. Sua pintura, que costuma ser enquadrado entre os pós-impressionistas, abriu novos caminhos para a arte do século XX, e trouxe uma nova concepção de percepção da realidade. Em obras como A montanha de Saint Victoire, o artista prenuncia as pesquisas do Cubismo.

15/01/2011

Meu passarinho, meu passarão!


Hoje o dia amanheceu de uma calmaria desconcertante. Abri a porta que dá para o quintal e me deparei com uma cena lindíssima! Fazendo a maior algazarra sobre a grama, um passarinho do papo amarelo, lindo e faqueiro tomava seu banho matinal na água que escorria do regador. Era um bem-te-vi festeiro.
Fiquei olhando aquela cena e me perdi em pensamentos.
Lembrei-me da história que minha mãe nos contava sobre como o João de Barro foi criado por Jesus. Ela nos contava que uma criança havia feito um passarinho de barro, e olhando sua obra acabada e tentando dar vida a ela, começou a rodopiar em volta do pássaro e batendo palmas dizia:
Voa passarinho! Voa passarinho! – E que Jesus vendo de longe a pureza do menino, o ajudou na sua façanha, dando vida ao passarinho, que saiu voando. Dai o menino resolveu que seu passarinho não poderia ficar sozinho no mundo e da mesma forma ele criou a D. Joaninha de Barro e que o casal de pássaros saiu feliz e se multiplicando pelo mundo de Deus.
Outra história que ela nos contava, talvez porque fomos criadas em uma fazenda, ela aproveitava o ambiente como ilustração para nos educar.
Tínhamos pavor dos bem-te-vis porque ela dizia que eles eram os pássaros do “capeta” e era considerado um dedo duro. Ela dizia que o bem-te-vi foi quem contou para os soldados onde estava Maria e José quando eles fugiam com o menino Jesus e que somente não tinham sido descobertos pelos soldados porque o João-de-barro os havia escondido em sua casinha de barro.
Esta era a maneira um tanto pueril que nossa mãe encontrou de nos falar de traição.
Mas agora eu ali olhando aquele bem-te-vi, comecei a rir do nosso pavor infantil.
Moro numa rua chamada Rouxinol, aliás, todas as ruas do bairro trás o nome de um pássaro. E acredito que isto tenha uma razão de ser. Aqui todos os anos recebemos a visita de milhares de andorinhas que migram do Canadá para o Brasil fugindo do inverno rigoroso da América do Norte. Elas vêm em milhares, cruzam o céu batendo freneticamente suas asas delicadas, num barulho quase assustador... Aninham-se nas copas das árvores da rua. O barulho que fazem é enorme e a sujeira também. Quando amanhece o dia, embaixo das árvores, fica uma lama de fezes e isto leva alguns vizinhos a tomarem medidas nada corretas, chegam ao cúmulo de cortar a copa das árvores deixando apenas os troncos. Outros soltam fogos, outros ainda batem tampas de panelas, na esperança de espantá-las dali... Tudo em vão.
Esses adultos zangados se esquecem de suas infâncias, não se lembram das falas dos mais velhos que diziam que as andorinhas foram criadas por Deus para alegrar Maria e também para brincar com menino Jesus.
Lucinda Prado